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Penal Quinta-feira, 08 de Março de 2018, 09:40 - A | A

08 de Março de 2018, 09h:40 - A | A

Penal / Propina NO DETRAN

Em cinco anos, Dóia diz que recebeu R$ 559 mil; Savi e Silval R$ 750 mil cada

Contudo, conforme apurado durante a Operação Bereré, a FDL, chegava a lucrar indevidamente cerca de R$ 14 milhões ao ano para registrar contratos de financiamentos de veículos

Lucielly Melo



Em sua delação premiada, Teodoro Lopes (vulgo “Dóia”), revelou que enquanto esteve à frente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), entre os anos de 2007 e 2013, recebeu o total de R$ 559 mil para encobrir o esquema de pagamentos de propinas que eram repassados pela empresa FDL (atualmente EIG Comércio).

Além dele, também teriam sido beneficiados o deputado Mauro Savi e o ex-governador Silval Barbosa, respectivamente, com R$ 750 mil cada um, em “retornos”, durante os cinco anos da gestão de Dóia. 

Contudo, conforme apurado durante a Operação Bereré, a FDL chegava a lucrar indevidamente cerca de R$ 14 milhões ao ano para registrar contratos de financiamentos de veículos.

Segundo o depoimento de Dóia, do total do montante que recebeu, R$ 159.051,48 mil foram repassados pelo empresário Marcelo da Costa Marques, da empresa FDL, valor que teria utilizado para compra de um apartamento.

Dóia afirmou que recebeu de Mauro Savi 400 cabeças de gado, que equivaliam R$ 400 mil, para que ele não interferisse no contrato firmado entre a empresa e o Detran.

“O depoente recebeu do deputado Mauro Savi 400 (quatrocentas) cabeças de gado que estavam em uma fazenda no município de Itaúba-MT, valor que em dinheiro corresponde à aproximadamente R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais); que este valor foi repassado por Mauro Savi para que o declarante não prejudicasse o regular andamento do contrato entre a FDL e o Detran/MT; que este pagamento seria uma espécie de comissão de recursos oriundos do contrato firmado entre a FDL e o Detran/MT, ou seja, seria a parte do depoente na rede de proteção da FDL; que para Mauro Savi a empresa FDL fazia repasses através da pessoa de Claudemir Pereira Dos Santos, conhecido por "Grilo", sendo que o depoente acredita que os valores eram repassados de forma mensal”, diz trecho do seu depoimento.

Este valor foi repassado por Mauro Savi para que o declarante não prejudicasse o regular andamento do contrato entre a FDL e o Detran/MT; que este pagamento seria uma espécie de comissão de recursos oriundos do contrato firmado entre a FDL e o Detran/MT, ou seja, seria a parte do depoente na rede de proteção da FDL

Teodoro Lopes ressaltou que quando atuou como coordenador de campanha de Savi para sua reeleição ao cargo de deputado, a FDL “doou” R$ 750 mil para auxiliar nos gastos eleitorais.

Da mesma forma, Silval Barbosa recebeu o mesmo montante para usar na campanha para governador do Estado. Dóia alegou que parte desse valor foi entregue numa sacola ao então chefe de gabinete Sílvio Cézar Corrêa Araújo.

“(...) que o depoente, por ter coordenado a campanha de reeleição de 2010 do deputado Mauro Savi, tem conhecimento de que a FDL repassou o montante de R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) para a campanha de Mauro Savi, conforme Marcelo Da Costa Marques havia prometido antes do processo licitatório; que o depoente tem conhecimento de que a FDL entregou o montante de R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) para a campanha do ano de 2010 do ex-Governador Silval Barbosa, sendo que o depoente, inclusive, entregou uma sacola de dinheiro contendo parte desse valor ao Chefe do Gabinete Silvio Cesar Correa de Araújo; que sobre este fato, o depoente afirma que a pessoa de Marcelo da Costa Marques chegou no gabinete do depoente com o dinheiro, e foram juntos entregar a sacola com o dinheiro ao Silvio, no Palácio Paiaguás, conforme Marcelo da Costa Marques havia prometido antes do processo licitatório”, confirmou.

Outros beneficiários

Ainda em seu depoimento, Dóia explicou que a empresa também pagou propina ao presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, que repassava os valores para Mauro Savi.

Da mesma forma, a FDL pagava o dono da Trimec, Vanderley Fachetti e o filho do empresário, assim como repassava recursos ilícitos a Eduardo da Costa Marques e Claudemir Pereira dos Santos.

“Que o depoente tem conhecimento que a FDL fez repasses à José Eduardo Botelho, o qual pegava para si, ou repassava à Mauro Savi; que o depoente tem conhecimento também que a FDL fez repasses à pessoa de Vanderlei Fachetti Torres, o qual tinha bastante influência e trânsito no governo Silval Barbosa; que o depoente tem conhecimento de que a FDL fazia repasses à empresa em nome de Eduardo Da Costa Marques, assim como à empresas em nome de Claudemir Pereira Dos Santos, vulto "grilo"; que o depoente tem conhecimento também que foram efetuados repasses para empresas em nome do filho de Vanderlei Fachetti Torres”.

Rede de proteção

O ex-presidente do Detran confirmou em sua delação que a FDL criou uma espécie de “rede de proteção” para manutenção do contrato. Este grupo era formado por Mauro Savi, Eduardo Botelho, Sílvio Cézar, Marcelo da Costa Marques, Eduardo da Costa Marques, Vanderley Fachetti e seu filho, Claudemir Pereira dos Santos, que recebiam propina pelo “serviço”.

“(...) que após o início de execução do contrato entre a FDL e o DETRAN/MT a referida empresa criou uma rede de proteção política para a manutenção do referido contrato, nos termos em que o mesmo foi celebrado; que esta rede de proteção política foi formada por Mauro Savi, José Eduardo Botelho, Silvio Cesar Correa Araújo (Chefe de Gabinete do Governador Silval Barbosa), Marcelo Costa Marques, seu irmão Eduardo da Costa Marques, Vanderlei Fachetti Torres, conhecido como Vanderlei da Trimec e seu filho, e também a pessoa de Claudemir Pereira Dos Santos, conhecido como "Grilo", além do próprio depoente; que essa rede de proteção foi estabelecida para a manutenção do contrato firmado entre a FDL e o DETRAN/MT; que a empresa FDL através, principalmente da pessoa de Marcelo Costa Marques, repassava valores, como forma de propina, a todos os integrantes da rede de proteção acima mencionados”.

Operação Bereré

As possíveis irregularidades ocorridas no âmbito do Detran foram objetos de investigação da Operação Bereré, deflagrada no mês passado, que desbaratou suposta organização criminosa que atuou no Detran através de esquema de propinas.

Durante as investigações, o ex-secretário do Detran firmou acordo de delação e confirmou que políticos e empresários integravam o grupo criminoso.

Durante a operação, os agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram mandados de busca e apreensão expedidos pelo desembargador José Zuquim, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, contra os 49 investigados.

Foram alvos da investigação: o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, ex-deputado federal Pedro Henry; ex-secretário de gestão da Assembleia Legislativa, Elias Pereira dos Santos Filho; o ex-servidor da Seduc, Moisés Dias da Silva; os ex-servidores da Assembleia Legislativa, Francisvaldo Mendes Pacheco, Tscharles de Tschá e Odenil Rodrigues de Almeida; o deputado estadual Mauro Savi, a esposa do ex-secretário Éder de Moraes, Laura Tereza da Costa Dias, e seu filho, Éder de Moraes Dias Junior.

CONFIRA AQUI A DECLARAÇÃO DE DÓIA NA ÍNTEGRA