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Penal Terça-feira, 20 de Fevereiro de 2018, 17:28 - A | A

20 de Fevereiro de 2018, 17h:28 - A | A

Penal / CORRUPÇÃO NO DETRAN

Botelho afirma que ser sócio de empresa foi um erro e isso o atormenta

Durante coletiva de imprensa, o parlamentar reconheceu que houve pagamento de propina por parte da empresa

Lucielly Melo



Alvo da Operação Bereré, o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, confirmou ter integrado o quadro societário da Santos Treinamento e Capacitação Pessoal Ltda., empresa que segundo o Ministério Público Estadual (MPE) era de fachada e usada em suposto esquema de corrupção no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MT).

Durante coletiva de imprensa, o parlamentar reconheceu que houve pagamento de propina por parte da empresa.

"O contrato, pelo que entendi, não tinha nada de ilegal, era uma prestação de serviços que vinha sendo feita no Brasil inteiro e vários estados estavam fazendo e não tinha nada ilegal, e nós entramos como investidores. Começou a ter algo ilegal na entrada do governo Silval [Barbosa] em 2011 e houve uma pressão muito grande e parte dessa empresa foi passado para um representante de Silval, como está na delação de Toninho [Antônio Barbosa, irmão de Silval]”, declarou.

Ele ainda acrescentou que a empresa foi passada para o filho de Wanderley Fachetti, proprietário da Trimec, e momento em que teria iniciado os pagamentos dos "retornos". 

“Está no contrato social e não tem como negar e foi repassado para o Wanderley da Trimec, filho de Wanderley, em torno de 30%. Me senti mal com isso e no final de 2011 comecei a discutir a minha saída da empresa e combinado que em julho de 2012 eu realmente sairia porque sabia que estava errado isso e sabia que não estava indo bem. Infelizmente eu demorei a sair, devia ter saído naquele momento, foi um erro que cometi na minha vida, eu reconheço esse erro que vem me atormentando, agora não nasci para santo, sou empresário há 35 anos e nessa empresa eu fiquei menos de dois anos nela. Quando entrou esse pessoal eu devia ter saído naquele momento, demorei a sair e isso está me gerando transtorno que estou passando agora, pra mim, para os meus familiares, amigos e pessoas que acreditam na gente”, disse.

Apesar de confirmar que tinha conhecimento de “retornos”, ele negou que liderou o esquema ou que fez parte das negociações espúrias.

Isso é totalmente infundado, tanto é que na delação de Dóia [Teodoro Lopes] ele fala em várias reuniões e nenhum ele cita eu. Nunca participei de reunião com Dóia, nunca participei de conversa com Silval, nunca participei de reunião nenhuma, então não posso ser acusado de ser líder de uma coisa que não fui e se o Dóia falar a verdade ele vai dizer que 'nunca tratei desse assunto com Botelho'

"Isso é totalmente infundado, tanto é que na delação de Dóia [Teodoro Lopes] ele fala em várias reuniões e nenhuma ele cita eu. Nunca participei de reunião com Dóia, nunca participei de conversa com Silval, nunca participei de reunião nenhuma, então não posso ser acusado de ser líder de uma coisa que não fui e se o Dóia falar a verdade ele vai dizer que 'nunca tratei desse assunto com Botelho'".

Imagem desgastada

Ao ser questionado se sua imagem como representante da Casa de Leis estaria comprometida, Botelho esclareceu que a operação não enfraqueceu sua credibilidade quanto presidente da Assembleia.

“Lógico que criou pra mim um constrangimento muito grande. Mas, o enfraquecimento como presidente, não. Vou continuar com a mesma postura que sempre tive de transparência e tranquilidade e levar as coisas mais transparente possível. Isso não tem nenhuma relação com meu mandato, saí da empresa em julho de 2012, meu mandato começou em 2015, então não tem nenhuma relação com isso. Estou muito tranquilo com a condição nessa casa e meu papel de cumprir meu mandato de deputado”.

Lavagem de dinheiro

O Ministério Público apontou que o secretário de Gestão de Pessoas da AL, Elias Santos, irmão de Wilson Santos, teria lavado dinheiro para o presidente da Casa de Leis. Segundo o órgão ministerial, foram encontrados 14 cheques emitidos por Botelho, que totalizam o valor de R$ 60,7 mil.

A informação foi rechaçada pelo parlamentar, que caracterizou a acusação como descabida.

“É uma acusação descabida e dizer que lavei em quatro anos, R$ 60 mil, é totalmente descabida! Eu ia dar 2 mil pra ele, para quê? O dinheiro estava na minha conta. (...) Não tem sentido eu dar para alguém ir lá sacar e dar pra mim mesmo. O dinheiro estava na minha conta, estava livre, com imposto de renda declarado. Isso não tem sentido. E ficou parecendo que toda pessoa que recebeu cheque meu lavou dinheiro pra mim. Isso não tem mínimo sentido isso. É totalmente descabido e até lamento, e peço desculpas as pessoas que receberam meu cheque e estão passando por isso hoje”.

Negócio com Éder de Moraes

A esposa e filho do ex-secretário Éder de Moraes, Éder de Moraes Júnior e Laura Tereza Dias também são investigados na operação. De acordo com o MP, eles são sócios da HM Comércio de Combustíveis Ltda, empresa que tinha movimentação financeira com o presidente da Assembleia.

Em relação à isso, Botelho declarou que o posto era de propriedade dele e de seu irmão, e que apenas fez negócio com o ex-secretário de compra e venda do local.

“Em relação à Éder Moraes, quero esclarecer o seguinte, aquele posto de combustíveis era meu e de meu tio, que a gente comprou para o meu filho e o filho dele tocar. Depois de um determinado tempo os dois meninos começaram a brigar. O meu tio falou olha vamos vender o posto. E ele apareceu com o contrato pronto e nós vendemos. Quando o cheque meu foi pra empresa o posto era meu. Eu estava portando dinheiro lá porque estava a situação difícil, precisava comprar combustível e aportei dinheiro. Nunca tive relação com Eder Moraes, a não ser por essa venda, que por sinal nem recebi, pois aconteceram vários problemas e acabamos ficando sem receber”, esclareceu.

Pedido de prisão negado

Ainda na coletiva de imprensa, o deputado estadual elogiou a postura do desembargador José Zuquim, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, responsável por rejeitar pedido do Ministério Público em decretar prisão preventiva contra ele e os demais investigados.

Segundo ele, o magistrado teve papel fundamental para equilibrar as investigações.

“Tem gente na delação que recebeu cheques meu de mil reais. Eu achei que foi exagerado, pegar a pessoa e falar “você está preso”, ‘ah, mas porquê?’ ‘Você vai ser preso e depois a gente vai discutir’. Daí a pessoa fica cinco dias preso até explicar porque recebeu o cheque”.

Operação Bereré

A Operação Bereré, deflagrada nesta segunda-feira (19) teve início a partir de informações divulgadas na delação do ex-presidente do Detran, Teodoro Lopes, o "Dóia", que revelou existência de esquema de propina com a participação de políticos e empresários.

Ele apontou que a empresa que registra financiamento de contratos de veículos para o primeiro emplacamento, a FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação de Documentos Ltda. cobrava uma taxa entre R$ 140 e R$ 400, ficava com 90% do valor e repassava 10% ao Detran.

O esquema lucraria cerca de R$ 1 milhão ao mês.

Durante a Operação, os agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram mandatos de busca e apreensão expedidos pelo desembargador José Zuquim, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, contra os 49 investigados.