facebook instagram
Cuiabá, 26 de Abril de 2024
logo
26 de Abril de 2024

Penal Quinta-feira, 16 de Agosto de 2018, 09:59 - A | A

16 de Agosto de 2018, 09h:59 - A | A

Penal / GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA

Cabo da PM pede novo interrogatório e quer oitivas de Paulo e Pedro Taques

Na audiência realizada no último mês, o cabo revelou, por horas, a sua participação no esquema, bem como a do governador Pedro Taques e de seu primo, o ex-secretário Paulo Taques

Lucielly Melo



O cabo da Polícia Militar, Gerson Corrêa Barbosa, quer voltar à 11ª Vara Especializada da Justiça Militar para esclarecer alguns detalhes de sua confissão sobre o suposto esquema dos grampos ilegais, que ficou conhecido como “Grampolândia Pantaneira”.

Na audiência realizada no último mês, o cabo revelou, durante horas, a sua participação no esquema, bem como a do governador Pedro Taques e de seu primo, o ex-secretário Paulo Taques.

De acordo com a defesa do cabo, representada pelos advogados Thiago de Abreu Ferreira e Neyman Augusto Monteiro, a intenção de um novo interrogatório seria para elucidar alguns fatos afirmados por Gerson, devido ao cansaço gerado na última oitiva, que durou mais de 15 horas.

MidiaNews

neymar.jpg

 

“Após o acesso ao interrogatório e minuciosa análise, tanto do interrogado bem como de seus defendentes, restaram prejudicados alguns pontos a serem melhor esclarecidos e explicitados tanto para o órgão acusador bem como ao magistrado e os juízes coronéis”, disse a defesa.

Um possível reinterrogatório, segundo os advogados, também seria a ocasião para definir quais benefícios o militar tem direito após ter entregue detalhes do esquema criminoso.

“O seu reinterrogatório é imprescindível como foi o anterior, onde o ÚNICO que buscou a mostrar a verdade da GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA, invocou o princípio constitucional da “BUSCA DA VERDADE REAL”, neste momento seja para melhor esclarecer os fatos e também para objetivar os benefícios do acusado Gerson Luiz Ferreira Correa Junior sob pena de cerceamento de defesa”, reforçaram.

Audiência com os Taques

A defesa do cabo voltou a postular pela inquirição dos primos Taques (Pedro e Paulo) para explicarem os fatos imputados.

Outrossim, em virtude dos esclarecimentos carreados aos autos, torna-se necessário ouvir na qualidade de testemunha as pessoas de Paulo Cesar Zamar Taques e José Pedro Taques

“Outrossim, em virtude dos esclarecimentos carreados aos autos, torna-se necessário ouvir na qualidade de testemunha as pessoas de Paulo Cesar Zamar Taques e José Pedro Taques”.

Demais pedidos

Ainda na petição, a defesa pediu para que o juízo mande a operadora de telefonia Vivo informar o extrato das ligações originadas e recebidas de Paulo Taques, bem como as mensagens de texto e dados cadastrais dele no período de 1º de agosto a 30 de setembro de 2014.

O pedido é para comprovar que o encontro entre o cabo Gerson, o coronel Evandro Lesco e Taques, para tratar sobre a estrutura dos grampos, foi, de fato, realizado.

“Assim, requer seja expedido ofício às operadoras para a produção de provas neste sentido, indicando a estação rádio base (ERB) que aponte a localização dos usuários dos telefones e outras informações adicionais que possam colaborar com o deslinde da ação penal”, diz trecho do documento.

Para contradizer as informações ditas pelo coronel Zaqueu Barbosa, o cabo ainda requereu ao juízo a expedição de ofícios ao Google, para confirmar que quem encaminhou relatórios e recebeu decisões sobre a realização das interceptações foi o coronel, não ele.

Ao final, solicitou, também, a juntada de comprovantes de transferência para a empresa de José Marilson.

Confissão

Em depoimento que durou horas, Gerson contou que em 2014 foi chamado pelo coronel Zaqueu Barbosa para atuar em um projeto na qual investigaria policiais militares que estariam praticando atos ilícitos. A investigação ocorreria por meio de escutas.

Posteriormente, segundo Gerson, o coronel questionou se o sistema de grampos poderia ser usado em outro local, sob a justificativa de atuar com contabilidade.

Com a afirmação do cabo, Zaqueu marcou um encontro entre Gerson e Evandro Lesco com Paulo Taques. Na reunião entre eles, ficou combinado que Taques iria arcar com as custas da sala que seria alugada.

O militar ainda contou que ele e Lesco pegaram R$ 50 mil com Paulo Taques, valor que foi usado para adquirir equipamento para a central de escutas. Em setembro de 2014, o sistema começou a funcionar. Na época, Zaqueu foi quem forneceu a lista com números que seriam grampeados.

Nas vésperas das eleições de 2014, Zaqueu teria dado novos números para serem interceptados, momento, segundo o cabo, que advogados e rivais de Pedro Taques, que disputavam o governo, foram alvos das interceptações ilegais.

Em dezembro, a placa do sistema de escuta queimou e foi desenvolvido outro batizado de "sentinela".

Já em 2015, Zaqueu pediu para que parasse o esquema, já que teria vazado o funcionamento do mesmo.

De acordo com o acusado, o interesse das “barrigas de aluguel” seria dos primos Taques.

Entenda o caso

Os coronéis Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Ronelson Barros, o tenente-coronel Januário Batista e o cabo da PM, Gerson Barbosa foram acusados de implantarem um suposto esquema de escutas ilegais no estado, que teriam grampeado políticos, advogados, médicos, juízes e jornalista.

Todos respondem pelo crime de ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação por terem se envolvido na suposta organização criminosa.

A ação tramitava no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas no final do ano passado, o ministro Mauro Campbell devolveu os autos para a primeira instância, onde os militares são julgados pela 11ª Vara Especializada de Justiça Militar, presidida pelo juiz Murilo Mesquita e composta pelo Conselho Especial.

Já em abril, o desembargador Luiz Ferreira da Silva suspendeu o trâmite da ação penal até o julgamento final da exceção de suspeição movida por Gerson contra dois juízes militares do Conselho Especial.

Mas, a exceção não foi reconhecida, motivo que fez o juiz Murilo Mesquita retomar o processo.