O filho do ex-governador Silval Barbosa, Rodrigo Barbosa, apesar de não ocupar cargo ou função na Administração Pública do Estado tinha mais mobilidade na arrecadação da propina e nas operações de lavagem de dinheiro ocorridos dentro da antiga Secretaria de Administração (Sad).
Isso é o que consta nas alegações finais do Ministério Público Estadual, feitas pela promotora de Justiça, Ana Cristina Bardusco, nos autos da segunda fase da Operação Sodoma.
Segundo depoimento dos ex-secretários do Estado, Cézar Zílio e Pedro Nadaf, “Rodrigo com muita frequência se fazia presente no Palácio do Governo, no gabinete de seu pai, muitas vezes acompanhado por Pedro Elias, desde quando ele ocupava o cargo de assessor especial”.
Conforme as informações apuradas, Rodrigo entrou no grupo criminosa desde a formação, início do ano de 2011, a fim de dar maior mobilidade ao líder, seu pai, atuando como “longa manus” de Silval, representando-o para externar suas vontades e ordens perante os próprios comparsas.
"Rodrigo Barbosa ocupou cargo de levado nível da estrutura da organização criminosa como longa manus do líder, seu pai, Silval Barbosa, com atuação multifacetada"
A promotora Ana Cristina narrou nos autos, que Rodrigo era membro significante da facção, “seja na identificação de eventuais cúmplices e de fonte de receita escusa [...] para o grupo, bem como na arrecadação da parte que cabia ao seu pai – líder – da vantagem indevida angariada pelos demais membros, procedendo à respectiva lavagem de dinheiro de Silval”.
“Portanto, demonstrado pelas provas colhidas nos autos, que Rodrigo Barbosa ocupou cargo de levado nível da estrutura da organização criminosa como longa manus do líder, seu pai, Silval Barbosa, com atuação multifacetada, consistente desde a identificação de membros para o grupo e de fonte de receita ilícita, como na arrecadação da propina destinada ao líder e sua respectiva dissimulação e ocultação”.
O primogênito e o “braço direito”
De acordo com as provas, Rodrigo e Sílvio ocupavam “o mesmo patamar na hierarquia organizacional do grupo criminoso”, em razão ao grau de confiança de que Silval lhes depositava, já que o primeiro é seu filho primogênito e o segundo lhe acompanhava há mais de 15 anos, sendo “seu braço direito.
“Ambos autuavam como arrecadadores da parte da propina que cabia à Silval”, diz um trecho dos autos.
Membro comandado
Compartilhando o mesmo “status”, Rodrigo e Sílvio tinham como membro comandado o ex-secretário adjunto da Sad, Pedro Elias.
“Mister destacar que Pedro Elias executava ações sob o comando direto de Rodrigo, a quem se reportava para comunicar a identificação de alvos para o grupo criminoso, na busca de aval proceder à exigência, bem como, para entregar a propina que arrecadava, entrega que era feita no apartamento de Rodrigo Barbosa, garantindo a discrição no repasse da propina, blindando-o de qualquer exposição”, diz outro trecho da declaração de Bardusco.
Pedro Elias afirmou que além de ter exigido e/ou recebido o pagamento de propinas de empresários que mantinham relação comercial com o Estado (como Júlio Minoru, proprietário da Webtech Softwares e Serviços), sob a ordem de Rodrigo, os valores recebidos em espécies eram entregues pessoalmente para Rodrigo, no mesmo dia do recebimento e sempre no apartamento dele.
"Só a exteriorizava para os seus cúmplices, agindo sempre às espreitas perante terceiros, o que lhe implicava em maior proteção"
Recebeu propina
Em seu depoimento, Pedro Nadaf afirmou ter visto Rodrigo receber, por mais de duas vezes, propina de Silval no gabinete do governador.
“Esta conduta ostensiva só ocorria no próprio ambiente da organização criminosa, ou seja, só a exteriorizava para os seus cúmplices, agindo sempre às espreitas perante terceiros, o que lhe implicava em maior proteção, exatamente em razão de estar umbilicalmente ligado ao líder, na missão de arrecadar o seu ganho criminoso e promover a respectiva lavagem de capital”.
Grupo criminoso
Ana Cristina Bardusco ressaltou durante os autos que o grupo criminoso era composto por Cézar Roberto Zílio, Pedro Elias Domingos de Mello, José de Jesus Nunes Cordeiro e Rodrigo da Cunha Barbosa, Pedro Jamil Nadaf, Marcel de Souza Cursi, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, Sílvio Cézar Corrêa Araújo, Karla Cecília de Oliveira Cintra, todos liderados por Silval Barbosa.
Cézar Zílio, Pedro Elias, José Cordeiro e Rodrigo Barbosa, segundo a promotora, atuavam nos diversos setores da Administração Pública “motivo pelo qual requer a condenação pela prática do delito tipificado no artigo 2º, caput, §4º, inciso II da Lei nº 12.850/2013”.
Sodoma II
A segunda fase da Operação Sodoma foi deflagrada no início de março de 2016, após a polícia descobrir que cheques de empresas que mantinham contratos com o Governo do Estado foram utilizados para o pagamento de parte de um terreno de 10,861 metros quadrados vendido pelo valor de R$ 13,5 milhões a empresa Matrix Sat Rastreamento, localizado na Avenida Beira Rio, no bairro Grande Terceiro, em Cuiabá.
Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão contra o empresário Willians Mischur; o ex-governador do Estado, Silval Barbosa; os ex-secretários do Estado, Pedro Nadaf e Marcel de Cursi e Cézar Zílio, além da ex-secretária de Nadaf, Karla Cecília Cintra.
De acordo com as investigações, o imóvel foi adquirido por Cézar Zílio de forma fraudulenta, em nome de terceiros, com dinheiro de propina pagos por empresários que tinham contrato firmado com o Estado, nos anos de 2011 a 2013.
As investigações também apuraram que a área foi quitada com cheques da Consignum, Webtech e Serviços, Editora de Liz Ltda e EGP da Silva ME.