Recentemente, uma avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) revelou que os estudantes brasileiros apresentam índices preocupantemente baixos em criatividade. A avaliação mede a capacidade dos alunos de pensar criativamente, incluindo a geração de ideias originais e a resolução de problemas de forma inovadora. O Brasil está atrás de muitos países nessa competência essencial para o desenvolvimento acadêmico e social dos alunos, segundo a OCDE.
A avaliação mostra que a criatividade permanece na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apenas de forma "aspiracional", sem implementação prática. O foco predominante em memorização e reprodução de conteúdo deixa pouco espaço para que os alunos experimentem e explorem ideias novas e arriscadas, sem medo de errar.
O relatório "Futuro do Trabalho de 2020" do Fórum Econômico Mundial destaca que a criatividade será um fator preponderante para o mercado de trabalho nos próximos anos, ocupando o quinto lugar entre as habilidades mais requisitadas. Estima-se que 14% dos empregos podem ser totalmente automatizados e 32% sofrerão mudanças significativas com o avanço da robótica e inteligência artificial.
Assim, o futuro precisa ser visto no agora, e as escolas brasileiras devem integrar práticas que incentivem o pensamento criativo de maneira concreta, mediante atividades interdisciplinares, uso de projetos práticos, ambientes de aprendizado que permitam a expressão de ideias de diversas formas como visual, escrita, música, dança e trabalhos manuais. Isso tudo sem descuidar da formação contínua de professores para um ambiente onde a criatividade possa florescer e evidenciar as individualidades de cada um, contribuindo para a formação da saúde social como fator de extrema importância para a atualidade em que vivemos.
Na contramão da ideia cartesiana, a pedagogia Waldorf, desenvolvida por Rudolf Steiner no início do século XX, oferece uma abordagem educacional que pode ajudar a superar esses desafios. Tendo a antroposofia como base, a pedagogia enfatiza o desenvolvimento integral do ser humano, para além da dinâmica de memorização e o desempenho em testes, valorizando a criatividade e a imaginação no processo educacional, por meio de:
Aprendizado Holístico: onde todas as dimensões do aluno são trabalhadas por um currículo rico em artes, música, teatro e atividades manuais, além das disciplinas acadêmicas tradicionais; Ambientes de Aprendizado Flexíveis: dando-se ênfase em materiais naturais e esteticamente agradáveis, promovendo a colaboração e a interação, permitindo a expressão de ideias de maneira criativa e inclusiva; Valorização do Processo Criativo, onde erro é um elemento natural do processo de aprendizagem, estimulando a segurança para aceitação do risco e exploração de novas ideias; Integração de Arte e Movimento: onde o pensamento criativo e crítico, é expresso na pintura, modelagem, marcenaria, costura, teatro e dança, tão valorizadas quanto as disciplinas de base, permitindo a formação do pensamento flexível e adaptativo.
Ao valorizar o processo criativo e aprendizado flexível, integrando artes e o movimento no currículo, as escolas podem cultivar alunos mais participativos, conscientes de si e do contexto em que vivem, ampliando a motivação e a preparação para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança.
MARCELO CINTRA, advogado, empresário e membro do Conselho Gestor da Associação Waldorf Brasilis – Colégio Brasilis em Cuiabá–MT.