facebook instagram
Cuiabá, 08 de Novembro de 2024
logo
08 de Novembro de 2024

Opinião Domingo, 15 de Setembro de 2019, 17:44 - A | A

15 de Setembro de 2019, 17h:44 - A | A

Opinião /

Depressão: um mal silencioso que perambula entre nós

Às vezes a jornada neste plano de vida fica de um tamanho, que acabamos por não aguenta-la, na crença que a "nossa cruz" parece, dimensionalmente, maior do que a de todo mundo

Lucy Macedo



É muito difícil - nestes tempos sombrios de competitividade extrema e índice alto de desemprego - que um de nós não tenha um amigo que esteja ou esteve em depressão. E ainda, pior, que não tenha pensado em se matar, por conta desta doença que leva as pessoas à uma jornada solitária. Uma doença silenciosa que perambula no meio de nós, sem que a vejamos, de fato.  

Tenho buscado criar o hábito de conversar com amigos, por meio de artigos, lhes revelando minhas observações cotidianas. Aproveito esta campanha de absoluta necessidade - que é o Setembro Amarelo -, para marcar posição nesta luta, contra uma doença que vem resultando em uma série de consequências, comumente nefastas, como o seu extremo: a morte.  

Na última terça-feira, 10 de setembro, foi aberto um debate ampliado contra a depressão por conta do dia mundial de conscientização e prevenção do suicídio. Claro, que não há como dar nomes e apontar situações de pessoas que conhecemos que chegaram ou pensaram em tirar suas vidas por não suportar o seu peso, com os seus embaraços, quebra-cabeças, impasses, dilemas e dificuldades.

É difícil mesmo! Às vezes a jornada neste plano de vida fica de um tamanho, que acabamos por não aguenta-la, na crença que a 'nossa cruz' parece, dimensionalmente, maior do que a de todo mundo.  

Bom, os números estão aí para comprovar sobre a fragilidade da solidão e o perigo que ela pode suscitar no cotidiano. E embora os números mundiais estejam em queda, quanto às taxas de suicídios, no entanto, ainda temos que conviver com uma triste realidade que retrata que pelo menos 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.  

E na comparação entre continentes e subcontinentes, registrou-se um aumento na taxa de suicídios elevada na América. Com alta, em particular, de 7% no Brasil. 

Índices que chegam a nos surpreender porque em levantamentos mais recentes sobre o assunto, acabamos por descobrir que têm sido registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no país, sendo a segunda causa de óbito em pessoas entre 15 e 29 anos, com ocorrências mais comuns no sexo masculino.  

Por isto, acredito que ampliar um debate ao entorno do tema e construir campanhas cada vez mais bem elaboradas sobre o “Setembro Amarelo”, pode ser um guia eficaz na redução no número de mortes. ​  

Ampliando a discussão - por meio de matérias -, que apontem os gatilhos e estressores que precipitam tal ação. Desde a predisposição genética, traços de personalidade até aspectos relacionados ao uso abusivo de álcool ou outras substâncias. Além, é claro, de situações cotidiana que levam uma pessoa a uma profunda desesperança como a perda do emprego, problemas financeiros, términos de relacionamentos, exposição à situações de violência, trauma ou abuso, dor ou doença crônica.  

Paralelamente, precisamos de políticas públicas eficazes que nos ajudem nesta cruzada. Estabelecendo estratégias, instituindo medidas preventivas e orientações claras para auxiliar a população a lidar com o tema, que costuma ser encoberto por uma nuvem de preconceitos e incompreensão. De olho, sobretudo, nos elevados dados de autoextermínio entre jovens, que só ficam atrás apenas dos acidentes de trânsito. E, piora, quando analisados por gêneros, pois eles apontam que o suicídio é a segunda causa de mortes entre meninas de 15 a 19 anos (depois de problemas decorrentes da maternidade) e a terceira entre garotos da mesma faixa etária (superada por acidentes de trânsito e por casos de agressão).  

Assim, é hora de abrirmos uma campanha bem mais longa do que a do Setembro Amarelo em favor da sensibilização dos meios de comunicação sobre a importância de abordar o assunto da forma correta. Além, é claro, de podermos contar com uma performance governamental mais eficiente no que tange à oferta de programas que ensinem os jovens a lidar com as frustrações e problemas cotidianos, sobretudo, a identificação de pessoas sob risco, oferecendo-lhe todo o apoio necessário.  

Afinal, viver a vida como a temos hoje é quase um ato diário de referendarmos nossa crença nas leis divinas e, obviamente, mostrarmos respeito à vida humana. E mesmo que, particularmente, eu seja muito grata a vida, nem por um segundo, entretanto, deixo de observa-la, sob o olhar do outro e me colocar à sua disposição.  

Lucy Macedo é empresária, proprietária do site Única News e Revista Única