No século XVII, Thomas Hobbes reverberou o romano Platus, no sentido de que o homem é lobo do próprio homem, ou seja, é o seu maior inimigo, o seu próprio vilão. Para Hobbes, o indivíduo é capaz das maiores brutalidades e atrocidades em busca de interesses individuais. Nasce livre num estado de natureza, mas para sua própria conservação submete-se a regras capazes de controlá-lo, tornando possível a convivência social.
Na visão de Rousseau, as pessoas nascem livres, mas estão cercadas de grilhões por todos os lados. São boas por natureza e a sociedade é quem as corrompe.
John Locke, um empirista, enxergava que a criança é uma tábula rasa, folha de papel em branco. Assim, ao contrário do racionalismo de Kant, apregoava que sem nenhum dado apriorístico o homem não tem nenhum conhecimento inato. Ser bom ou ruim dependerá do meio em que vive, das interferências sociais.
Antes de Hobbes, Rousseau e de Locke, o imortal Platão já contava a história de Giges, um bom pastor, homem trabalhador, cidadão exemplar e cumpridor de seus deveres. Mas, em certa ocasião, Giges ouviu um grande estrondo e viu abrir uma fenda na terra.
Curioso, aproximou-se do local, enxergou no buraco um touro de pedra, com uma coisa brilhante na cabeça. Foi até lá para ver o que era: um anel de ouro. Colocou-o no dedo e percebeu que quando o girava para a esquerda, ficava com o corpo invisível. Se girasse novamente em sentido oposto, voltava a ser visto. A partir desse dia, com o poder do anonimato, Giges passou a praticar as maiores barbaridades que alguém possa imaginar: matou, roubou, estuprou.
É importante ter-se em conta que isso se aplica a todas as pessoas, pois na essência todos são iguais. Somos o que pensamos ser. Tudo está ligado ao pensamento, que gera uma emoção. A emoção transmuda em ação. Repetidos pensamentos, sentimentos e ações tornam-se hábito, que amoldam o caráter e dita o destino.
E para arrematar, é interessante para meditação o episódio acontecido com Sócrates, narrado por Friedrich Nietzsche.
Conta o prussiano que certo dia um estrangeiro passava por Atenas. Avistou o famoso filósofo Sócrates. Foi logo perguntando e sentenciando:
- Nossa, você é Sócrates? É tão feio, que deve ter em suas entranhas todos os vícios e apetites humanos!
Sócrates o contemplou retrucando:
- Tem toda a razão meu senhor, mas saiba que controlo cada um deles.
Já disse certa vez aos jovens, que para combater a corrupção tem que ter coragem para a luta.
Acrescento agora. Mais do que isso: é necessário controlar os vícios, sob pena de mais cedo ou mais tarde cair nas garras do inimigo, pois ninguém é super herói, nem melhor que qualquer outro.
Controle, entre outras, a vaidade, o orgulho, a antipatia, a teimosia, a arrogância, a preguiça, a ganância, a ira, a intolerância, a mesquinhez. Lutem o bom combate. Enfim, os defeitos devem ser controlados. Controlei. Controlo. Sempre tentarei controlar. Concito a todos a controlarem também.
Arnaldo Justino da Silva é promotor de Justiça em Mato Grosso