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Cuiabá, 25 de Abril de 2025

Opinião Sexta-feira, 04 de Agosto de 2023, 08:51 - A | A

Sexta-feira, 04 de Agosto de 2023, 08h:51 - A | A

Verdade absoluta e relativa

Platão acreditava que as ideias (ou formas) são entidades eternas e imutáveis

A perspectiva da verdade absoluta defende que existe uma realidade objetiva e independente de qualquer observador. Segundo essa visão, a verdade é imutável e válida em todas as circunstâncias.

Pensadores como Platão acreditavam que as ideias (ou formas) são entidades eternas e imutáveis que existem além do mundo físico e que a verdade pode ser encontrada através da razão e do pensamento lógico. Para Platão, a verdade absoluta é alcançada por meio da contemplação do mundo das formas.

Por outro lado, a perspectiva da verdade relativa sugere que a verdade é contextual e depende das circunstâncias, experiências e perspectivas individuais. Sofistas, como Protágoras, afirmavam que "o homem é a medida de todas as coisas", defendendo que a verdade é subjetiva e varia de pessoa para pessoa.

De acordo com essa visão, a verdade é influenciada pela cultura, pela linguagem e pelos valores individuais ou coletivos.

Para Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, ponderou sobre a verdade em seu trabalho "Metafísica". Ele criticou a teoria das ideias de seu mestre e propôs que a verdade é encontrada na análise lógica do mundo físico. Para Aristóteles, a verdade é alcançada através da observação e do raciocínio indutivo.

Immanuel Kant (1724-1804), na "Crítica da Razão Pura", abordou a natureza da verdade ao discutir as categorias do entendimento humano. Ele argumentou que a verdade é uma construção da mente humana, pois o conhecimento é moldado pelas estruturas cognitivas inatas que todos possuímos.

Assim, a verdade é relativa à nossa forma de perceber e organizar o mundo.      

Friedrich Nietzsche (1844-1900) questionou a existência de verdades absolutas, especialmente aquelas baseadas em valores morais e religiosos. Ele defendia que as concepções de verdade são produtos da vontade de poder e das interpretações individuais, sugerindo que a verdade é, em última instância, subjetiva e relativa.           

Michel Foucault (1926-1984), pensador francês, explorou a relação entre verdade e poder em suas obras. Ele argumentou que o conhecimento e a verdade são influenciados pelas estruturas de poder em uma sociedade, questionando assim a objetividade da verdade absoluta. Foucault defendeu que a verdade é uma construção social e histórica.           

Na política e na religião, a verdade tem seus horizontes bem delineados. A relação entre verdade e política, assim como a verdade na religião, é uma temática complexa e relevante em diferentes contextos sociais e históricos. Tanto na esfera política quanto na religiosa, a verdade tem sido usada como ferramenta de poder, legitimidade e controle social.           

A verdade na política é muitas vezes moldada por interesses e perspectivas ideológicas. Governantes e regimes políticos podem manipular a verdade para justificar suas ações, consolidar o poder e obter o apoio da população. 

O filósofo político Maquiavel (1469-1527), em sua obra "O Príncipe", argumentou que um governante, às vezes, deve agir contrariamente à moral tradicional para manter o poder. Essa abordagem maquiavélica coloca a verdade como algo relativo e flexível, subordinado às necessidades políticas do momento.           

Outro pensador relevante é Hannah Arendt (1906-1975), que analisou o papel da verdade na política totalitária. Em sua obra "Origens do Totalitarismo", ela destacou como regimes totalitários usam a propaganda e a desinformação para distorcer a verdade e subjugar a população. Arendt enfatizou a importância da verdade factual e do pensamento crítico para a manutenção da democracia e da liberdade.           

Kierkegaard (1813-1855), um filósofo existencialista e teólogo dinamarquês, em suas obras, refletiu sobre a natureza paradoxal da verdade religiosa e a importância do salto da fé. Para ele, a verdade religiosa não é algo objetivo ou cientificamente demonstrável, mas uma experiência subjetiva que requer compromisso pessoal e paixão.           

As esferas política e religiosa muitas vezes interagem e se influenciam mutuamente, o que pode gerar conflitos em relação à verdade. Algumas ideologias políticas são construídas com base em doutrinas religiosas, e líderes políticos podem reivindicar uma autoridade divina para justificar suas ações. Essa interseção entre política e religião pode levantar questões complexas sobre a natureza da verdade e sua utilização como instrumento de poder. 

É por aí... 

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.